All posts tagged: Serra da Estrela

Narciso e selvagem

Vaidosos, os narcisos selvagens espalham a sua beleza por entre os bosques e revelam-se antes de todas as outras flores. Anunciam a primavera entre carvalhos e pinheiros ou na orla das veredas que entram pela floresta. As pétalas dos narcisos selvagens foram-se abrindo, entre o sol e a sombra, ao longo de Março. Para observar e nunca colher os bolbos, avisa o herbário da Universidade de Coimbra: http://www.uc.pt/herbario_digital/Flora_PT/Familias/Amaryllidaceae

Mimo às manadas

A montanha não dá abrigo e alimento apenas às cabras e ovelhas. As vacas do vale da Castanheira pastam nos lameiros e comem centeio. Ainda com espanto e um sorriso, José Eduardo Brazete recorda um dos primeiros invernos em que começou a criar gado. “Andei à procura das vacas e não as via. Imaginava-as meio mortas, mas encontrei-as entre as giestas, vivas, todas juntas”. Ali, na Castanheira, a uma altitude de cerca de 980 metros, os meses mais frios podem ser bastante duros. No entanto, é neste ecossistema em pleno Parque Natural da Serra da Estrela que o agricultor de 59 anos encontra todos os ingredientes para cuidar da sua manada. “Os bezerros bebem leite e comem erva. Semeio centeio para elas comerem. Depois dou-lhes na primavera, enquanto ele [o cereal] está pequenino”, explica José Eduardo Brazete. O gado de José Eduardo Brazete, 21 fêmeas e 2 machos, vive em relativa liberdade nos 14 hectares da propriedade, apenas limitada pela cerca (pastor) elétrica. São uma mistura de duas raças francesas, “a charolesa, porque são vacas …

Sair à rua para entrar na música

As duas bandas filarmónicas de Manteigas integraram onze novos alunos nas suas formações. Descobrimos quatro histórias de promessa, liberdade, nervos e… caganitas. O bocejo chegou depois das dez da noite. O ensaio decorria há mais de uma hora e os onze anos do corpo delgado de Sofia Serra começaram a ressentir-se do cansaço. A flauta transversal continuou em frente dos lábios. Apesar de não chegar com os pés ao chão, conservou as costas direitas. Para se manter alerta, de vez em quando, esfregou os olhos ou lançou o cabelo para trás dos ombros. Cada pequeno movimento, lento, disfarçado, feito nos momentos de pausa, valeu a pena para prosseguir com o treino até pouco depois das onze da noite daquela terça feira. Afinal, no sábado seguinte, dia 26 de dezembro de 2015, logo a seguir ao Natal, seria a sua estreia como um dos seis novos membros da Música Nova e iria apresentar as boas festas à população da vila. O primeiro dos dois dias de arruada começou às nove da manhã e “acabou pelas 16h30”, lembra. “Já me …

O inferno fica além do poço?

A resposta talvez nunca surja, tantos são os focos de distração ao longo da caminhada: a flora exuberante, as paisagens imensas… O percurso começa e acaba no Poço do Inferno, uma cascata com cerca de 10 metros na Serra da Estrela. Segue pela ribeira de Leandres – o afluente do rio Zêzere que forma aquela queda de água – e acompanha bosques com castanheiros, faias e tramazeiras entre outras espécies de árvores e arbustos. A reportagem fotográfica do passeio:    

Corvos, nem um

Tocar Espanha a partir do Fragão do Corvo. Antes da chegada ao Fragão do Corvo os olhos prendem-se nos detalhes: casas, árvores, plantas. Não se veem animais, muito menos pássaros. Lá no topo, a cerca de 1450 metros de altitude, a imensa paisagem impõe silêncio. Quando o céu está limpo, dali pode-se vaguear por Manteigas, seguir ao longo do vale do Zêzere, passar pela Guarda e entrar em Espanha para espreitar as serras de Peña de Francia, Gredos e Béjar. Manteigas vista do Fragão do Corvo.

As pantufas do javali

Sobreviver é a lei mais importante da caça. Para a presa e para o caçador. Enquanto se espera há tempo para contemplar e conhecer a natureza. Silêncio e concentração. Com os pés em cima da neve gelada e o vento frio a cortar a pele do rosto, era difícil manter tamanho sossego para se ouvir os passos rápidos e abafados dos javalis. Afinal, numa montaria tudo é determinado num fogacho, após horas de silêncio com os ouvidos nos latidos longínquos dos cães, no apito agudo das cornetas dos matilheiros. Os caçadores esperam pela presa e reagem com urgência mal espiam uma mancha negra a correr entre os arbustos e o arvoredo. Ali, na Serra de Baixo, durante a montaria organizada a 7 de Fevereiro pelo Clube de Caça e Pesca de Manteigas, a conversa fazia-se num suspiro, enquanto os olhos se colavam na encosta mesmo em frente dos nossos narizes. Os javalis demoravam a aparecer. Nesse largo compasso de espera a imaginação trabalhava tendo apenas por base as histórias que foram saltando como troféus de caça durante o …

Sem arma, com matilha

Os matilheiros seguem atrás dos javalis sem arma, apenas com uma faca e um pau. Andam por montes e vales com os seus cães, a encaminhar as presas até aos caçadores. No fim da montaria na Serra de Baixo, no passado dia 7 de Fevereiro, os matilheiros mostravam mãos feridas e rostos afogueados. O cansaço disfarçava mal o entusiasmo da perseguição. À volta das suas pernas os cães continuavam a circular, excitados. Como se as últimas cinco horas não tivessem sido passadas a correr atrás de javalis entre giestas, carqueja e pinheiros, a ladrar e latir sem cessar. Durante a montaria do Clube de Caça e Pesca de Manteigas os cães colaram os narizes no chão, farejaram o ar à procura de um sinal, sempre à espera da orientação dos donos. Com palavras certas e o som das pequenas cornetas, os matilheiros acompanharam os cães. “Incentivam-nos a levarem as peças até às portas”, explicou Helder Cantarinha. São os matilheiros que percorrem as cumeadas e descem os vales atrás dos grupos de cães que alimentam e tratam ao …