All posts tagged: Inverno

Mudar a fralda aos queijos

São cada vez menos os pastores que ainda fazem e vendem queijos de ovelha e de cabra. Etelvina Reis e Augusto Ribeiro tratam os seus como se fossem filhos a precisar de mimos diários. Uma história de trabalho partilhado. “Eu também vou com elas para Campo Romão, ali depois da antiga Pousada”, alerta Etelvina Reis. Elas são as 25 cabras e as 100 ovelhas, normalmente, guiadas pelo seu marido, Augusto Santos Ribeiro. No dia-a-dia as mãos de Etelvina estão mais ocupadas com a transformação do leite em queijo, mas isso não a impede de pastorear, se necessário. Também ela conhece as manhas dos animais. “O leite é mais fraco no tempo quente. Elas correm muito para as giestas e empinam-se para apanharem a flor. Parecem loucas por aquilo. Até fui provar as flores para compreender o gosto e são amargas”, diz com um sorriso largo, enquanto torce o nariz. “Para elas é como se fossem rebuçados de mentol, é o que eu digo!” Olha para a janela e aponta uma intersecção no caminho que vai …

Mimo às manadas

A montanha não dá abrigo e alimento apenas às cabras e ovelhas. As vacas do vale da Castanheira pastam nos lameiros e comem centeio. Ainda com espanto e um sorriso, José Eduardo Brazete recorda um dos primeiros invernos em que começou a criar gado. “Andei à procura das vacas e não as via. Imaginava-as meio mortas, mas encontrei-as entre as giestas, vivas, todas juntas”. Ali, na Castanheira, a uma altitude de cerca de 980 metros, os meses mais frios podem ser bastante duros. No entanto, é neste ecossistema em pleno Parque Natural da Serra da Estrela que o agricultor de 59 anos encontra todos os ingredientes para cuidar da sua manada. “Os bezerros bebem leite e comem erva. Semeio centeio para elas comerem. Depois dou-lhes na primavera, enquanto ele [o cereal] está pequenino”, explica José Eduardo Brazete. O gado de José Eduardo Brazete, 21 fêmeas e 2 machos, vive em relativa liberdade nos 14 hectares da propriedade, apenas limitada pela cerca (pastor) elétrica. São uma mistura de duas raças francesas, “a charolesa, porque são vacas …

Saudável solidão

As folhas e a casca da nogueira têm qualidades terapêuticas. Os romanos já sabiam (quase) tudo sobre esta árvore que dá muito mais do que nozes. Rejeita-se o quebra-nozes com o olhar no martelo e na tábua de madeira. As mãos pedem descanso e as nozes exigem uma pancada leve, seca e cuidadosa para ficarem inteiras. Uma tarefa típica do final do outono e do inverno, pois em Manteigas são muitas as nogueiras e raras as avelaneiras e amendoeiras. A sabedoria popular, nesta vila, elogia a noz pela capacidade de melhorar a memória — não fora o fruto tão parecido com o cérebro. Ao longo da história muitos povos lhe foram encontrando qualidades. Os romanos, por exemplo, consideravam a nogueira uma árvore sagrada e as nozes um símbolo de fertilidade. Durante o império romano, nos banquetes em que se consumia carne sacrificada no altar aos deuses, após inúmeros pratos de caça, porco, ostras, marisco, pão, legumes, peixe e vinho, a refeição terminava com fruta: nozes, figos secos e uvas em conserva. Estes primores eram considerados …