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A azeitona apanhou um susto

Por causa do excesso de calor a azeitona amadureceu cedo e a colheita começou num ápice. Fomos espreitar o funcionamento de um lagar e descobrimos que o azeite ainda pode servir de moeda de troca. Em meados de novembro a apanha da azeitona ia quase no fim. No lagar transformava-se o fruto da oliveira com a certeza de que tudo estava a acontecer cedo demais. A primavera seca, a falta de água e muito sol assustaram a azeitona, mudaram-lhe o calendário e incomodaram-lhe a saúde trazendo algumas pragas: mosca e gafa. Os trabalhadores que apanharam a azeitona não precisaram de tanta roupa, como noutras campanhas bem mais frias e a entrar no inverno. Quem olha os campos à volta de Manteigas confirma que o tempo pode ter aquecido, contrariando a convenção, mas o olival tradicional, na maior parte dos casos, ainda se mantém intocável: as oliveiras são altas e não pequenas, organizadas, como nos olivais modernos, mesmo os que seguem o modelo de cultivo tradicional. Aqueles que fazem a colheita encostam escadas ao tronco para varejarem a azeitona que tomba sobre sarapilheira ou mantas …

Saudável solidão

As folhas e a casca da nogueira têm qualidades terapêuticas. Os romanos já sabiam (quase) tudo sobre esta árvore que dá muito mais do que nozes. Rejeita-se o quebra-nozes com o olhar no martelo e na tábua de madeira. As mãos pedem descanso e as nozes exigem uma pancada leve, seca e cuidadosa para ficarem inteiras. Uma tarefa típica do final do outono e do inverno, pois em Manteigas são muitas as nogueiras e raras as avelaneiras e amendoeiras. A sabedoria popular, nesta vila, elogia a noz pela capacidade de melhorar a memória — não fora o fruto tão parecido com o cérebro. Ao longo da história muitos povos lhe foram encontrando qualidades. Os romanos, por exemplo, consideravam a nogueira uma árvore sagrada e as nozes um símbolo de fertilidade. Durante o império romano, nos banquetes em que se consumia carne sacrificada no altar aos deuses, após inúmeros pratos de caça, porco, ostras, marisco, pão, legumes, peixe e vinho, a refeição terminava com fruta: nozes, figos secos e uvas em conserva. Estes primores eram considerados …

Do terroir se faz a feijoca

Seguimos o cultivo da feijoca de Manteigas de Maio a Outubro. Descobrimos como o clima e solo a caracterizam e que papel tem a leguminosa no processo de emagrecimento. Carlos Baptista gosta de fazer experiências. Por curiosidade. Para saber o que acontece às suas feijocas quando são cultivadas em meios diferentes. Já levou alguns exemplares de Manteigas para Aveiro e “produziram muito. Eram iguais, só que o sabor ficou diferente, não era tão doce.” A semente que todos os anos cultiva em terrenos localizados no Vale Glaciar do Zêzere transformou-se “numa feijoca vulgar”. Afinal, continua o agricultor, “a nossa feijoca tem a casca fina. Nas outras, logo quando as pomos de molho, a pele facilmente rebenta. A nossa não, estica e aguenta-se.” Na colheita de 2015 decidiu realizar novo teste. Desta feita cultivou a feijoca de Cabo Verde num canto dos terrenos que trata. A favona, como é conhecida naquele país, é bem maior do que a leguminosa de Manteigas, apesar de também ser esbranquiçada (veja fotografia). Depois da colheita em Outubro chegou a surpresa: “Estão iguais à nossa, diminuíram de tamanho. …