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Do terroir se faz a feijoca

Seguimos o cultivo da feijoca de Manteigas de Maio a Outubro. Descobrimos como o clima e solo a caracterizam e que papel tem a leguminosa no processo de emagrecimento. Carlos Baptista gosta de fazer experiências. Por curiosidade. Para saber o que acontece às suas feijocas quando são cultivadas em meios diferentes. Já levou alguns exemplares de Manteigas para Aveiro e “produziram muito. Eram iguais, só que o sabor ficou diferente, não era tão doce.” A semente que todos os anos cultiva em terrenos localizados no Vale Glaciar do Zêzere transformou-se “numa feijoca vulgar”. Afinal, continua o agricultor, “a nossa feijoca tem a casca fina. Nas outras, logo quando as pomos de molho, a pele facilmente rebenta. A nossa não, estica e aguenta-se.” Na colheita de 2015 decidiu realizar novo teste. Desta feita cultivou a feijoca de Cabo Verde num canto dos terrenos que trata. A favona, como é conhecida naquele país, é bem maior do que a leguminosa de Manteigas, apesar de também ser esbranquiçada (veja fotografia). Depois da colheita em Outubro chegou a surpresa: “Estão iguais à nossa, diminuíram de tamanho. …

A feijoca regressa à horta

Esta receita de feijoca cobiça os legumes de primavera e verão, mas também serve para acompanhar carne e enchidos. Sim, é verdade, este prato não tem carne nem enchidos. Outra surpresa: a feijoca pode transformar-se numa refeição menos pesado e mais simples. Isso não significa que o gosto fuja a sete pés e que a tradição seja maltratada. Basta temperar cuidadosamente e cozinhar com lentidão para se revelarem outras características da feijoca. Acompanhado apenas com arroz é um prato vegetariano substancial, afinal, tem as proteínas da leguminosa. Quem quiser pode assar umas rodelas de morcela ou grelhar entrecosto para servir com o estufado. A textura delicada da feijoca de Manteigas e o adocicado dos legumes são excelentes parceiros desses sabores mais fortes. No fundo, a feijoca estufada com vegetais permite que se juntem à mesma mesa amantes de carne e vegetarianos (ou mesmo vegan) convictos. Esta versão pode ser uma boa aliada para variar a utilização dos legumes de primavera e verão. Feijoca estufada com legumes Para cozer as feijocas: 250 gr. de feijoca seca 1 cebola pequena 1 folha de louro média sal q.b. 2 dentes de …

Matação na Vinha Morta.

O dia da matança do porco é feito de rituais. Os homens matam e limpam o animal. As mulheres transformam o sangue. E assim se fazem as morcelas. À volta do alguidar as vozes das mulheres ajudam a esquecer a tarefa monótona de encher as tripas para as morcelas. Ali, no lugar da Vinha Morta, em Manteigas, o trabalho é muito e demorado apesar das mãos rápidas e certeiras. Bem cedo, após o sol nascer, cinco homens apoiaram o sangrador na empreitada mortal. Abriram o bicho, limparam-no e penduraram-no pelas pernas traseiras no chambaril, um pedaço de madeira em forma de arco. A faina masculina acabou a meio da manhã. Um ou dois dias depois de a carne maturar com o frio de Fevereiro e perder a rigidez da morte, ainda terão de cortar o porco. Cada parte, consoante a sua função, será congelada, salgada ou utilizada para fazer novos enchidos como farinheiros e chouriços. Nada se perde. Cinco mulheres têm pela frente um dia cheio. Entremeiam as horas com histórias de hoje e memórias antigas. Espicaçam as solteiras com os seus …