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Narciso e selvagem

Vaidosos, os narcisos selvagens espalham a sua beleza por entre os bosques e revelam-se antes de todas as outras flores. Anunciam a primavera entre carvalhos e pinheiros ou na orla das veredas que entram pela floresta. As pétalas dos narcisos selvagens foram-se abrindo, entre o sol e a sombra, ao longo de Março. Para observar e nunca colher os bolbos, avisa o herbário da Universidade de Coimbra: http://www.uc.pt/herbario_digital/Flora_PT/Familias/Amaryllidaceae

O inferno fica além do poço?

A resposta talvez nunca surja, tantos são os focos de distração ao longo da caminhada: a flora exuberante, as paisagens imensas… O percurso começa e acaba no Poço do Inferno, uma cascata com cerca de 10 metros na Serra da Estrela. Segue pela ribeira de Leandres – o afluente do rio Zêzere que forma aquela queda de água – e acompanha bosques com castanheiros, faias e tramazeiras entre outras espécies de árvores e arbustos. A reportagem fotográfica do passeio:    

Sinais de fumo

Numa tisana, para aromatizar um arroz ou acender o lume, a carqueja tem várias utilizações. O nariz é o primeiro a notar a diferença quando é usada, bem seca, para atear as chamas da fogueira. Um odor suave surge pouco antes do fogo que obriga a fechar a porta da salamandra. Tudo é diferente neste arbusto espinhoso que foi sendo apanhado nos passeios pela serra nos dias mais frios. As acendalhas são furiosas, raivosas, cheiram mal. A pinha prolonga o tempo, resiste, eleva a chama bem alto ao sabor da resina. A carqueja é delicada e efémera, deixa atrás de si um odor a floresta antiga e folhas crocantes. Durante o inverno atiçou o fogo e aliviou o frio. Entre abril e maio, quando a pterospartum tridentatum se enche de pequenas flores amarelas, é possível fazer arroz de carqueja ou beber uma tisana. Na primavera, durante a floração, tem-se pleno acesso às propriedades medicinais desta planta que, curiosamente, faz parte da família das leguminosas: uma infusão de 30 gramas de flores num litro de água fervida ajuda a tratar gripes, …

Pelas faias em silêncio

Na rota das faias as copas das árvores seguem-nos. O céu funde-se com o verde ou dourado das folhas. Os ouvidos são reis num bosque cheio de sussurros. Durante a primavera e o verão a luz do sol é coada pelas folhas das faias com vibrantes tons de verde. As vozes acalmam-se na sombra fresca da rota das faias para se ouvir os passos, os chocalhos distantes dos rebanhos e o vento ligeiro a abanar os ramos. No outono as folhas passam de verde para castanho dourado, começam a cair das árvores e partem-se, secas e crocantes, debaixo das botas. Na primeira parte do passeio, pouco depois de se sair da Cruz das Jogadas, mesmo ao lado da Capela de São Lourenço, descobre-se a paisagem intensa, sente-se o nascer do sol. É essa a porta de entrada para o bosque de faias e o início de um percurso que nos leva através do fértil vale de Pandil e, de regresso, à Cruz das Jogadas.  

As pantufas do javali

Sobreviver é a lei mais importante da caça. Para a presa e para o caçador. Enquanto se espera há tempo para contemplar e conhecer a natureza. Silêncio e concentração. Com os pés em cima da neve gelada e o vento frio a cortar a pele do rosto, era difícil manter tamanho sossego para se ouvir os passos rápidos e abafados dos javalis. Afinal, numa montaria tudo é determinado num fogacho, após horas de silêncio com os ouvidos nos latidos longínquos dos cães, no apito agudo das cornetas dos matilheiros. Os caçadores esperam pela presa e reagem com urgência mal espiam uma mancha negra a correr entre os arbustos e o arvoredo. Ali, na Serra de Baixo, durante a montaria organizada a 7 de Fevereiro pelo Clube de Caça e Pesca de Manteigas, a conversa fazia-se num suspiro, enquanto os olhos se colavam na encosta mesmo em frente dos nossos narizes. Os javalis demoravam a aparecer. Nesse largo compasso de espera a imaginação trabalhava tendo apenas por base as histórias que foram saltando como troféus de caça durante o …

Sem arma, com matilha

Os matilheiros seguem atrás dos javalis sem arma, apenas com uma faca e um pau. Andam por montes e vales com os seus cães, a encaminhar as presas até aos caçadores. No fim da montaria na Serra de Baixo, no passado dia 7 de Fevereiro, os matilheiros mostravam mãos feridas e rostos afogueados. O cansaço disfarçava mal o entusiasmo da perseguição. À volta das suas pernas os cães continuavam a circular, excitados. Como se as últimas cinco horas não tivessem sido passadas a correr atrás de javalis entre giestas, carqueja e pinheiros, a ladrar e latir sem cessar. Durante a montaria do Clube de Caça e Pesca de Manteigas os cães colaram os narizes no chão, farejaram o ar à procura de um sinal, sempre à espera da orientação dos donos. Com palavras certas e o som das pequenas cornetas, os matilheiros acompanharam os cães. “Incentivam-nos a levarem as peças até às portas”, explicou Helder Cantarinha. São os matilheiros que percorrem as cumeadas e descem os vales atrás dos grupos de cães que alimentam e tratam ao …