Month: Dezembro 2015

O inferno fica além do poço?

A resposta talvez nunca surja, tantos são os focos de distração ao longo da caminhada: a flora exuberante, as paisagens imensas… O percurso começa e acaba no Poço do Inferno, uma cascata com cerca de 10 metros na Serra da Estrela. Segue pela ribeira de Leandres – o afluente do rio Zêzere que forma aquela queda de água – e acompanha bosques com castanheiros, faias e tramazeiras entre outras espécies de árvores e arbustos. A reportagem fotográfica do passeio:    

Olhe que são três a cinco euros!

No dia do mercado, uma vez por mês, a vila de Manteigas ainda sai a passeio. Tudo e nada se compra, desde meias a sofás, saias e sapatos. A mãe interrompe-o pouco depois de começar. Alto e moreno, José Pedro é vendedor de roupa. “Pedro é o último nome”, confirma sem muitos sorrisos. “Já venho à feira de Manteigas há uns 20 anos, primeiro ficávamos ali perto da igreja”, acrescenta. A mãe, Rosalina Graça, pequena, enérgica, não perde a oportunidade e corta-lhe o discurso: “Hoje em dia não se vende nada”. O filho tenta continuar a conversa, explicando que, nos primeiros anos em que a feira se mudou para o parque de desportos radicais, fora das ruas principais da vila, “ainda foi bom, vendia-se bem. Mas depois, “com o cair das fábricas de têxteis, tudo mudou. Faliram e o poder de compra diminuiu”. A mãe volta à carga: “Se calhar ainda vamos para pior. A China deu cabo de tudo”. O filho desiste, entrega-se às vendas e aos clientes. Os compradores não são muitos e ouve-se algumas feirantes …

A cabra comeu as nozes

Grelos salteados com queijo de cabra curado e nozes. Ingredientes da montanha uniram-se para criar um prato rápido e simples. A ligação entre os sabores é mais intensa quando se juntam produtos da mesma região. Os grelos de nabo aliaram-se às nozes apanhadas neste outono e ao queijo de cabra curado da Serra da Estrela. A receita foi feita a pensar nas nozes de montanha (veja “Saudável solidão“) e pode adaptar-se com facilidade. A versatilidade surge da sua natureza tão simples, afinal, tem apenas três ingredientes principais. É uma entrada, mas torna-se, num ápice, num almoço ou jantar vegetariano. Basta juntar batatas assadas ou puré de castanha. Também acompanha carnes de aves, mas convém reduzir a quantidade de queijo – apenas o suficiente para registar o sabor e a textura do lacticínio sobre os legumes. Pode transformar-se numa sandes colocando os três ingredientes sobre pão centeio integral. Não se coloca a possibilidade de acompanhar peixe. Seria necessário retirar o queijo que dificilmente combinaria com, por exemplo, salmão, bacalhau ou mesmo pescada. Por ser a primeira receita do migalho com nozes, o fruto da nogueira não …

Saudável solidão

As folhas e a casca da nogueira têm qualidades terapêuticas. Os romanos já sabiam (quase) tudo sobre esta árvore que dá muito mais do que nozes. Rejeita-se o quebra-nozes com o olhar no martelo e na tábua de madeira. As mãos pedem descanso e as nozes exigem uma pancada leve, seca e cuidadosa para ficarem inteiras. Uma tarefa típica do final do outono e do inverno, pois em Manteigas são muitas as nogueiras e raras as avelaneiras e amendoeiras. A sabedoria popular, nesta vila, elogia a noz pela capacidade de melhorar a memória — não fora o fruto tão parecido com o cérebro. Ao longo da história muitos povos lhe foram encontrando qualidades. Os romanos, por exemplo, consideravam a nogueira uma árvore sagrada e as nozes um símbolo de fertilidade. Durante o império romano, nos banquetes em que se consumia carne sacrificada no altar aos deuses, após inúmeros pratos de caça, porco, ostras, marisco, pão, legumes, peixe e vinho, a refeição terminava com fruta: nozes, figos secos e uvas em conserva. Estes primores eram considerados …